Simpósio Gold evidencia 40 anos de investigação no Complexo Mineiro de Tresminas

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Simpósio Gold evidencia 40 anos de investigação no Complexo Mineiro de Tresminas

Encontro internacional sobre os 40 anos de investigação no Territorium Metallorum Tresminas/Jales, que decorreu nos dias 11 e 12 de abril, reuniu a presença de investigadores renomados e especialistas nas áreas da arqueologia, numismática, tecnologia e sociedade romana, provenientes de diversas instituições europeias.

O evento, organizado pelo Município de Vila Pouca de Aguiar e pela Unidade de Cultura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) teve como intuito reforçar a importância da investigação arqueológica e científica no território de Tresminas/Jales e promover o conhecimento e a valorização deste património mineiro.

A Presidente da Câmara Municipal deixou um cumprimento especial a Regula Wahl Clerici, que integra, desde o primeiro dia, a equipa de investigação de Tresminas, acompanhada nos inícios pelo seu marido, Jurgen Wahl, e que atualmente efetua uma mediação entre a Câmara Municipal com outras instituições internacionais de ensino, cultura e investigação para este território mineiro.

Destacou que, neste simpósio, se celebra não apenas um marco na pesquisa histórica, mas também o legado de uma terra que guarda vestígios do engenho e do espírito explorador de uma civilização antiga e que deixou raízes profundas no concelho. 

Referiu que a preservação da nossa história exige colaboração e visão de futuro, por este motivo, realçou a parceria entre Tresminas e a Fundação Las Médulas, pois esta relação de proximidade, representa um compromisso conjunto para dinamizar, proteger e promover este legado único e tão desafiante, salientando que “é neste espírito de compromisso e estratégia transfronteiriça, que  partilhamos conhecimento, promovemos iniciativas e garantimos que esses dois sítios arqueológicos, apesar de milenares, continuam a ser fontes vivas de ensino, investigação e de turismo sustentável”.

Ao longo destes 40 anos, o Município encetou todos os esforços para a investigação e para a preservação de Tresminas, investindo no Centro Interpretativo, e mais recentemente, em infraestruturas de apoio ao visitante, pois, “o Município acredita que estes projetos enaltecem a preservação do nosso património arqueológico e estabelecem um compromisso claro com estas terras e com as nossas gentes”.

Ana Rita Dias destacou que a integração de Tresminas e Jales no Roteiro de Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal, assim como a integração no Turismo Industrial, foram passos importantes para a valorização destes espaços e serão certamente redes de apoio para o tão esperado desenvolvimento. Salientou que a criação de uma Rota Cultural Europeia de Mineração Romana constitui um dos objetivos do Município de Vila Pouca de Aguiar.

“Estes projetos, agora articulados entre si, permitem que turistas, visitantes, investigadores e entusiastas da história explorem de forma educativa e envolvente um dos mais fascinantes testemunhos da mineração romana na Europa, contribuindo para um incremento positivo na economia local e na sociedade aguiarense.”

“Tresminas continua a ser uma fonte de inspiração e de grandes questões que ainda se encontram por responder, mas tenho a certeza que juntos, neste trabalho de rede e de reconhecimento, podemos garantir que seu legado brilhe não só na história, mas também num futuro próximo”, rematou a autarca.

António Teixeira, Presidente da Junta de Freguesia de Tresminas, para quem esta localidade “sempre foi mais do que um nome no mapa”, afirma que “outrora foi palco de uma das mais notáveis operações mineiras do Império Romano. Aqui, gerações de homens extraíram ouro com uma mestria técnica que continua a surpreender investigadoras de todo o mundo.” O autarca de freguesia refere ainda que é graças ao trabalho dos investigadores, técnicos e instituições que “Tresminas é hoje conhecida muito além das fronteiras do nosso concelho, como um dos mais relevantes sítios arqueológicos da mineração romana”.

Orlando Sousa, atual Presidente do Conselho de Administração do ICOMOS Portugal (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios), acompanhou as quatro décadas de investigação no território e foi convidado a relatar o início de formação da equipa de investigação e respetivo trabalho, e ainda a abordar alguns dos pontos marcantes da mesma, relativos à salvaguarda e gestão local.

“A investigação não pode ser descurada e deve sempre continuar”

Um desses pontos, diz Orlando Sousa, foi desenvolverem “uma investigação de grande qualidade que tem sido feita, e que também permitiu ajudar a salvaguardar este património que, de outra forma, parte dele já teria desaparecido ao longo destes 40 anos”. Para o Presidente do ICOMOS Portugal, os estudos são um fator crucial. “A investigação não pode ser descurada e deve sempre continuar. É a própria investigação que permite, por um lado, produzir e transmitir conhecimento e, por outro lado, fornecer dados para a sua gestão e salvaguarda”. O orador afirma com segurança que o património de Tresminas tem “importância local, regional, nacional e internacional”.  Explica ainda que “este conjunto é único no mundo romano” uma vez que “além das características específicas que têm a ver com o território, a geologia e as técnicas de exploração do ouro, manteve-se com grande autenticidade”. A grande diferença para outros territórios romanos, diz, “é que temos um conjunto de vestígios que nos mostram como é que todo o processo era feito”, ao contrário dos restantes em que os sinais romanos já desapareceram.

Segundo Orlando Sousa, o Município de Vila Pouca de Aguiar teve um papel importante na investigação do território mineiro e apostou em técnicos específicos da área, dando um salto qualitativo que em 1985 não tinha, aquando do seu início.  “O resultado de hoje é também fruto da aposta municipal e dos técnicos municipais especializados e no empenho que colocam nestes processos todos.”

Tresminas como “fator de coesão, promoção e crescimento de Vila Pouca de Aguiar”

Jorge Sobrado, Vice-Presidente da CCDRN para a Cultura e Património refere-se a Tresminas como um “tesouro arqueológico”. Segundo o orador, “constitui um recurso cultural, histórico e paisagístico (…) que precisa de ser transformado num ativo, ser colocado ao serviço daquilo que é a identidade do território, e também [fortalecer] o seu desenvolvimento cultural, turístico, sustentável e económico”. Para Jorge Sobrado, este território pode ser “fator de coesão, promoção e crescimento de Vila Pouca de Aguiar”.

Quanto aos estudos realizados, o Vice-Presidente da CCDRN salienta que “há um acervo de investigação notável, construído nos últimos 40 anos que é o pilar de todo um projeto de valorização”. Para tal, afirma, é necessário “criar condições de visitação sustentável (…) e é preciso garantir as condições da salvaguarda e de preservação (…) mas não abrir mão de um destino de ciência, investigação e turismo cultural ligado ao património romano e da exploração mineira”. Como consequência, é referido que Vila Pouca de Aguiar encontra assim uma “espécie de alavanca para a capacidade de criar sentido de pertença e retenção demográfica”.

Jorge Sobrado afirma que os contributos da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte passam por “apoiar a visão e vontade do Município de Vila Pouca de Aguiar que são indispensáveis, e trazer ao projeto parceiros que deem sustentação, solidez científica e solidez de gestão a Tresminas”.

Investigadores e instituições envolvidos

O encontro científico contou com investigadores de excelência em matérias como a economia romana, tecnologia mineira e sociedade e consolidou o papel da investigação científica em Tresminas como motor do seu posicionamento no panorama científico europeu. Catedrático na Universidade de Oxford e especialista em Romanização e Economia, o Professor Andrew Wilson abriu o primeiro painel do evento com uma síntese da importância da mineração aurífera no contexto socio-económico e político do Império Romano. Da mineração à produção de lingotes, em Magdalensberg, e moedas, as investigadoras Desiree Ebner-Baur (Áustria) e Diana Grethlein (Alemanha) abordaram as questões tecnológicas inerentes à circulação de moedas romanas no período romano.

A sociedade romana, nas suas vertentes militar e técnica, foi objeto das comunicações que integraram o segundo painel, onde se destacaram as investigações de Markus Scholz e Markus Helfert, ambos docentes na Universidade de Frankfurt. O encontro foi pontuado por intervenções que relevaram a tecnologia de ponta que, nos últimos anos, tem sido aplicada em Tresminas, e que tem sido determinante para o estabelecimento de estudos comparativos e de avanços significativos ao nível da digitalização do património, não só para registo e estudo, mas também para promoção. Thomas Kersten e Klaus Mechelke (Hamburgo) foram os rostos das novas tecnologias aplicadas ao património arqueológico e mineiro de Tresminas. A investigação da mineração romana na Itália, pelos oradores Aldo Rocchetti (Museo dell’Oro, Biella) e Norbert Hanel (Colónia), rematou o primeiro dia de trabalhos.

O avanço do conhecimento científico acerca da mineração romana nos territórios de Tresminas e Jales, possível pelo extenso labor assumido ao longo de quatro décadas pela investigadora Regula Wahl-Clerici, inicialmente integrada na equipa de Jürgen Wahl, possibilitou que o simpósio integrasse ainda estudos comparativos com sítios arqueológicos como Laurion na Grécia, apresentado em articulação com Frank Hulek. A mesma oradora apresentou ainda os resultados mais recentes da pesquisa efetuada ao nível do processamento da rocha mineralizada para abrir discussão relativamente ao grau de profissionalização e cadeias operatórias instaladas em época romana nos territórios mineiros.

Rick Spurway, videógrafo que, nos últimos anos, tem sido apoiado pelas Universidades de Oxford e Viena na produção de um documentário intitulado “The Genius of the Roman Gold Mining”, reproduzindo as palavras pelo Professor Andrew Wilson em relação a Tresminas, permitiu aos presentes no evento a visualização de excertos da sua obra, a qual estabelece comparação de sítios como Tresminas, Las Médulas e La Bessa.

O último painel integrou os dois sítios Património Mundial que representam a mineração romana no continente europeu. Património Mundial em Risco, declarado em 2021, o distrito mineiro de Alburnus Maior, na Transilvânia (Roménia) foi alvo da conferência de Peter Thomas, o qual salientou a importância da investigação científica para a compreensão dos territórios, sobretudo quando sofrem pressões económicas que ameaçam a integridade do património mineiro antigo.

Las Médulas, Património Mundial desde 1997, foi analisado, do ponto de vista da gestão patrimonial e dos desafios que se colocam a estes territórios outrora intensivamente explorados, por Marian Revuelta, que realçou a mais-valia no estabelecimento de parceiras como a que, em 2024, foi renovada com Vila Pouca de Aguiar e que foi entretanto abordada por Patrícia Machado, no contexto dos passos que o Município de Vila Pouca de Aguiar tem dado tendo em vista o reconhecimento do território mineiro antigo de Tresminas/ Jales como um conjunto monumental cuja escala e relevo pressupõem uma gestão multidisciplinar e integrada de setores tão distintos como a geologia, geotecnia, florestas e ambiente, em estreita articulação com os organismos tutelares da cultura e do património arqueológico.

 Acordo de cooperação

Para a Presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, Ana Rita Dias, “o ouro mais precioso que hoje podemos levar, é o conhecimento e a autenticidade deste lugar que perpetuou no tempo como uma das maiores das evidências do poder do Império Romano”.

A finalizar, a autarca Ana Rita Dias e Maria José Sousa, diretora do Museu D. Diogo de Sousa, firmaram um acordo de cooperação para promover o património arqueológico, oriundo do concelho de Vila Pouca de Aguiar

Fotos: CM VPA

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